Blimunda chegou a casa. À casa de sua mãe, deixada há tanto tempo.
Levava a vontade de Baltasar consigo.
Sentia-se serena.
Não tinha fome nem sede. Queria apenas sentar-se. Então foi até ao quarto.
Tantas memórias! E sentou-se na cama, primeiro à beira, depois mais atrás,
depois mais atrás, até encostar a nuca à parede fria e húmida do quarto.
Fechou os olhos e
uma torrente forte de imagens apareceu na sua mente, como se, ao invés de
fechar, tivesse aberto os olhos. Abriu-os de novo, repentinamente.
Pôs-se a
contemplar o quarto, o chão de terra, a arca velha, os pés de uma cadeira.
Depois chamou baixinho: “Baltasar...”.
Então a vontade
de Baltasar desprendeu-se suavemente de si, ficando apenas ligada a ela por um
ínfimo ponto de contacto, um pouco acima do umbigo. Blimunda examinou-a: havia
muita coisa misturada. Contradições, memórias com que Blimunda se enterneceu,
outras com que se riu. Com algumas torceu o nariz.
Blimunda reparou
que a vontade de Baltasar era redonda e que ia girando. Olhando para o seu próprio
abdómen, Blimunda viu que a sua própria vontade estava ali e que também girava.
A certa altura
Blimunda reparou que a parte da vontade de Baltasar que há pouco a enervara
estava agora no ponto mais perto dela.
Instintivamente
olhou para a sua própria vontade. Não se afastara da de Baltasar. Rodara de
maneira a ter uma palavra escrita no ponto em que se tocavam as duas:
“COMPREENSÃO.”
Rita Bolota Fonseca (12º A)
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