sábado, 15 de dezembro de 2012

LEITURAS

As abelhas não gostam de chuva

“Uma Abelha na Chuva” é um romance cativante e envolvente que parte de um episódio caricato da vida para nos levar a refletir acerca do oportunismo e do egoísmo humano, traduzindo-se depois numa morte inesperada.
O autor começa por nos situar na redacção do jornal onde Álvaro Sanches Silvestre, a personagem desencadeadora do enredo, se denunciava a si próprio, culpando-se por ter cometido vários erros, sendo um deles a venda de uma propriedade do seu irmão.
Álvaro era uma pessoa interesseira e, após ter recebido uma carta do seu irmão, em que este dava conta do seu regresso, apercebe-se que está numa encruzilhada, por isso, tentando emendar as más escolhas da sua vida e os traços negativos da sua personalidade, tenta fazer uma denúncia pública dos seus erros.
As personagens deste romance – Maria dos Prazeres e Álvaro – retratam a sociedade de meados do século XX, focando os casamentos por conveniência. Esta união traduz-se numa melancolia permanente, sentida por Maria dos Prazeres que, incapaz de amar o seu marido a quem considera uma pessoa deplorável, se apaixona pelo seu cunhado, irmão do marido, e se sente atraída pelo seu cocheiro, um rapaz novo e apaixonado pela empregada dos patrões, Clara.
Clara vai ter um papel bastante importante na história, pois é graças a ela que a metáfora do título é compreendida, não estando esta diretamente associada a abelhas, mas sim ao modo como as pessoas vivem e à falta que alguém de quem gostamos pode causar em nós.
Álvaro torna-se no “vilão” da história quando, ao descobrir a relação amorosa que existia entre Clara e Jacinto, o cocheiro, a denuncia ao pai de Clara, que desejava que a filha casasse com um homem rico, não se preocupando com a verdadeira felicidade da filha.
Neste romance está também patente a forma como o ser humano é capaz de “usar” o outro com o intuito de alcançar os seus objetivos, passando por cima daqueles que mais ama e daqueles que lutam pelos seus sonhos de forma digna.
Com a morte de Jacinto, Clara sente-se sozinha no mundo, desprotegida, devido ao egoísmo do seu pai e, perdendo a pessoa que mais amava, suicida-se por ser incapaz de lidar com a crueldade da vida. O Dr. Neto, após ter tentado salvar Clara, repara numa das suas colmeias e vê uma abelha sair, sozinha, exposta aos perigos, à semelhança de Clara. Esta abelha é atingida pelas gotas da chuva, morrendo desprotegida. Isto leva-nos a concluir que tudo está interligado e que muito do que nos acontece é inesperado, não sendo possível prever o que vai ser desencadeado a partir de uma pequena ação.
Este livro tem, por isso, a capacidade de prender o leitor do início até ao fim, envolvendo-o num enredo misterioso, com uma linguagem acessível, expondo as fraquezas do ser humano e a solidão que o caracteriza. É sem dúvida um livro que merece ser lido.
                                                                                                               Patrícia Pires (11ºF)

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