Num jornal cujo objetivo era informar de maneira transparente, mesmo que contra o regime, foi um quebra-cabeças lidar durante 65 semanas com uma estrutura (Exame Prévio) pronta a apagar parágrafos ou textos inteiros que não agradassem ao poder instituído. Aliás, diz Pinto Balsemão, à época diretor do jornal, foi a Revolução do 25 de abril que salvou o jornal já que era humanamente impossível aguentar mais tempo um controle deste tipo, quase sempre irracional. Os temas mais controlados eram a guerra colonial, a falta de democracia e as vozes dissidentes, tudo o que fosse movimentos de esquerda no estrangeiro.
Mas até mesmo os passatempos eram controlados. No material que ia para a Censura as palavras cruzadas (da responsabilidade de Marcos Cruz, pseudónimo de Mercedes Pinto Balsemão, mulher do diretor), a partir de certo momento, passaram a ter de incluir as soluções já que muitas vezes as mensagens políticas passavam também nestes passatempos e o regime não deixava. Por exemplo: "A principal atividade a que se dedica o atual governador civil de Lisboa". A resposta (com 9 letras) era "inaugurar" e foi necessário substituir por imposição do Exame Prévio a indicação inicial por "abrir festivamente".
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